sexta-feira, 14 de março de 2014

Chuvas até abril não serão suficientes para recuperar reservatórios, aponta Climatempo

As chuvas previstas para caírem até abril não serão suficientes para recuperar os reservatórios das hidrelétricas, mesmo com a torcida de praticamente todo o setor elétrico. De acordo com Patrícia Madeira, diretora de Metereologia do Climatempo, apesar da situação atual ser diferente de janeiro e fevereiro, quando um sistema de alta pressão bloqueava as chuvas no Sudeste, nada indica que grandes volumes de chuva cairão nesse final de período úmido.
"A chuva que vai acontecer até meados de abril não será a salvação do setor elétrico. A gente vai sair desse período chuvoso devendo água", apontou Patrícia ao participar do Fórum Agenda Regulatória 2014: Regulação e Mercado. A expectativa, de acordo com ela, é que as afluências em março terminem abaixo de 70% da Média de Longo Termo. Em abril, a situação é um pouco melhor, as afluências devem ficar um pouco acima dos 70% da MLT.

Para aumentar o desânimo do setor elétrico, Patrícia comentou que nada indica que o período úmido vá se estender. A previsão é que ele realmente termine em meados de abril. "Não é porque não choveu que o período úmido está atrasado. Não teve atraso nenhum no período úmido e tecnicamente ele também não vai terminar atrasado", declarou.
Ela disse ainda que há previsão de formação de El Niño no final do semestre, que não virá com muita intensidade, mas acarretará em temperaturas acima da média no inverno. "O inverno nesse ano não deve ser nada rigoroso", completou.

Risco de Racionamento em 25% - Não será melhor controlar o consumo?

Resultado contradiz resultado de simulação do governo que adotou procedimento ortodoxo para analisar possibilidade de falha no suprimento

Um levantamento feito a pedido da consultoria PSR, publicado no Energy Report, apontou que há déficits de suprimento de energia em 21 das 81 séries de vazões históricas simuladas. Este resultado contradiz o que o governo afirmou ao fazer a sua simulação nesta mesma base de dados onde não registrou problemas em nenhuma delas. A única explicação para essa contradição estaria em uma simulação com procedimento diverso do aplicado por agentes do setor com base no PMO de março de 2014.

Logo em seguida revela que este procedimento operativo, classificado como ortodoxo, consiste em atender a qualquer custo a demanda a cada mês, sem qualquer redução preventiva da demanda. Chamada de "operação kamikaze", neste tipo de operação, explica a consultoria, a falha de suprimento só é registrada quando se esgota os reservatórios. Neste caso em apenas uma série de vazões haveria déficit de energia. Contudo, este tipo de operação não poderia ser realizado porque se todos os reservatórios ficarem muito vazios, com nível de 10% da energia armazenada por submercado, há sério risco de perda de controle operativo e consequentemente colapso no fornecimento. Na simulação realizada, em cinco séries históricas nesta simulação os reservatórios ficaram, em algum mês, abaixo de 10% de armazenamento na região Sudeste, o que significa uma probabilidade de déficit de 6,2%.

A consultoria acrescenta que esta análise considera que todos as séries do histórico têm a mesma probabilidade. No entanto, "na vida real existe uma dependência entre as vazões que ocorrem em meses consecutivos. Por exemplo, se janeiro for um mês seco, há uma maior probabilidade de que fevereiro seja também um mês seco, e vice-versa: se janeiro for molhado, é mais provável que fevereiro seja também molhado; e assim por diante." Com o ajuste da dependência, a probabilidade de déficit aumenta para 12%.

Na análise da consultoria, além da operação kamikaze, as simulações oficiais incorporam três outros fatores que tornam o resultado ainda mais otimista. O primeiro é o ritmo de esvaziamento dos reservatórios que é menor do que o observado na realidade. O segundo é a redução das vazões no Nordeste inferiores à média nos últimos 20 anos. E, por último, o atraso, classificado com o crônico nos cronogramas de entrada em operação de reforços na geração de energia em comparação ao projetado nos PMOs. E cita, que em 2012, só entrou em operação apenas 20% da energia nova prevista e 33% em 2013. Enquanto isso, as simulações oficiais entendem que o cronograma será cumprido à risca.
Fonte: Canal Energia

Falta de Coerência no Setor Elétrico

Em 2014 as eleições levarão a que não haja mudanças regulatórias como em 2013, mas, procrastinação de decisões que impactariam nos consumidores, pois, o Tesouro Nacional estará a postos para registrar alocações de recursos para que somente em 2015 venham a serem visíveis os efeitos na tarifa

A busca míope pela modicidade tarifária e pelo controle da inflação tem levado o governo a tomar medidas no setor energético, sem a coerência e sem avaliação plena das suas consequências, tornando necessária a realização de remendos que desconfiguraram o marco regulatório, sacrificam as empresas, criam instabilidade e dificultam o planejamento e o investimento. O marco regulatório resultante de todos esses “puxadinhos” não atribui lógica necessária ao bom funcionamento do setor, enfraquecendo as empresas, criando conflito entre as partes e aumentando a perspectiva de judicialização das decisões.
Em 2014 as eleições levarão a que não haja mudanças regulatórias como em 2013, mas, procrastinação de decisões que impactariam nos consumidores, pois, o Tesouro Nacional estará a postos para registrar alocações de recursos para que somente em 2015 venham a serem visíveis os efeitos na tarifa para os consumidores.
Outro ponto sensível, é a debilidade financeira do setor de distribuição em função da descontratação de mais de 6,2 GW ao lado da elevação dos preços no MCP. Isso imporá novos aportes do Tesouro Nacional à CDE para cobrir a exposição involuntária das distribuidoras e sua sobrevivência. Aí é que está um risco não possível de mensurar no momento, pois os preços do Mercado de Curto Prazo devem seguir altos, dado o elevado nível de despacho das termelétricas no período 2013/2014.
Entre os fatores que reforçam essa tendência, note-se a nova metodologia implantada no Newave com a introdução do parâmetro CVaR que indica maior nível de despacho e maiores CMOs, e também a mudança nas regras no que se refere à ordem de mérito no despacho das termelétricas. A referida tendência de preços altos no MCP é corroborada por um relatório da PSR, indicando que os reservatórios na região NE estão em seu menor nível em 93 anos, e que há uma forte possibilidade de que as vazões no rio São Francisco, onde estão as principais hidrelétricas da região, estejam diminuindo.
A renovação antecipada das concessões do setor elétrico produziu um modelo hibrido que, por um lado, afetou os fundamentos do negócio transformando concessionários de geração e transmissão em meros operadores de empreendimentos. As mudanças exigiram adaptação dos investidores e também da agência reguladora, a cargo de ajustar o marco regulatório legal e definir quem é o contratante responsável por aportar garantias e cumprir os contratos de entrega de energia.
O mercado aguarda a alocação de energia das hidrelétricas sob as novas regras, de modo que as decisões de sazonalização 2013 da garantia física de energia foram adiadas de dez 2012 para fev. 2013. A aplicação das definições da portaria 455 também será motivo de impacto nas empresas do setor. As associações destacam que o preço da energia no ACL pode também ser afetado pela implementação da segunda fase da Portaria 455: com o ex-ante o custo Brasil aumentará e será refletido no custo da energia. Essa é uma medida que precisa ser mais discutida.
Enquanto os agentes querem flexibilizar o registro ex-ante, o governo defende a flexibilização da penalidade, entendendo que a flexibilização de registro seria na prática apenas manter o que já existe. Flexibilizar a penalidade permitiria aos agentes ajustar os contratos a cada semana, ficando pendente apenas a última semana, onde aí sim se abriria a possibilidade de flexibilizar.
As idiossincrasias do setor elétrico se agravam e os prejuízos para os empreendimentos hidrelétricos do potencial remanescente tornam-se de difícil implantação. Como já é do conhecimento de todos que a construção das hidrelétricas na região onde está o maior potencial a explorar fica cada vez mais difícil e custoso. Desconhecer que a fonte térmica terá que ser considerada de forma definitiva seja a carvão, gás natural, biomassa a eucalipto e nucleares não deveria ser uma postura do governo.
Se prevalecerem às dificuldades para construção das hidrelétricas em exploração do potencial existente no Brasil, e se não houver um adequado suprimento de gás natural deveríamos ter uma atitude mais consequente e coerente para realizar a construção de empreendimentos de geração hidrelétrica nos países vizinhos como o Paraguai, Bolívia, Peru e até no Suriname.
Por fim, 2014 se inicia com uma grande dúvida quanto à revisão das garantias físicas das hidrelétricas, com regras previstas na Portaria 303/04 do MME apenas até 31 dez de 2014.  Todas essas dúvidas precisam ser respondidas, tendo em vista que a revisão pode reduzir em até 5% a garantia física das usinas.
Adriano Pires é diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e Abel Holtz é consultor da área de energia